Álbum: O que você quer saber de verdade
Ano: 2011
Produção: Marisa Monte
Lançamento: EMI
A arte, de um modo geral, é reflexo do mundo, resultado daquilo que o homem produz e, consequentemente, reflexo do próprio homem. A música acompanha o mesmo caminho. Se o mundo está em guerra, as canções tendem a seguir dois caminhos: o mero entretenimento, sem conteúdo, apenas para servir de plano de fundo do conformismo ou como ferramenta impulsionadora, fomentadora desta inquietude. Vimos isso por diversas vezes na música brasileira. Os anos de chumbo no Brasil, por exemplo, sustentaram a volta da provocação artística, a apreciação musical para além música: estava nas roupas, no estilo de vida, na subliminaridade. Os jovens acompanhavam, entendiam que o momento pedia um pensamento mais coletivo, menos individual. Desde então, a música passou por diversas nuances, assim como o comportamento das pessoas.
Essa época passou, dando espaço para um novo perfil. Surgiu uma geração pautada pelo conformismo, pela falta de crítica, pela reclamação sem muito fundamento e que busca incessantemente a felicidade. A música mais uma vez é o espelho dessas características. Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Paula Fernandes, por exemplo, cantam basicamente sobre alegria e amor. Assuntos corriqueiros no que tange à música feita para rádio. No entanto, o que vem sendo produzido de forma "alternativa" versa basicamente sobre os mesmos assuntos, só que com um apelo menos popularesco, envolto por uma espécie de aura "intelectual", assinada por jornalistas musicais sedentos por mais do mesmo.
Surge então uma série de nomes que soam como cópias mal feitas de uns dos outros, que se querem mostrar "a sua verdade musical", não saem da sua zona de conforto. O que esperar de nomes como Roberta Sá, Thiago Pethit, Tulipa Ruiz, Céu, Mallu Magalhães e Tiê, por exemplo? Nada além do óbvio: letras superficiais que versam sobre amor ou sobre o cotidiano, albúns produzidos sem muita criatividade e nenhum apelo artístico (arte aqui entendida como algo que vá além de um simples bongô "conceitual" em determinada parte da música). E este tipo de música é feito sob medida para essa geração da falta de provocação, que acha lindo viver em contato com a natureza e ser feliz todos os dias, contanto que a internet 3G funcione perfeitamente bem para poder postar todas as fotos da viagem à fazenda no Facebook.O novo álbum de Marisa Monte resume muito bem tudo isso. "O que você quer saber de verdade", lançado esta semana, trata basicamente de que cada um deve viver a sua vida da forma que acha certo, sempre com alegria e amor, sem preocupações, sem muita profundidade. Era tudo o que o público de Marisa desejava ouvir depois de cinco anos sem músicas inéditas. Um álbum sem provocação, sem ousadia, voltado para um ouvinte conformado e sedento por novidades que não sejam tão abruptas assim. Mesmo com o hábito de ter grandes hiatos entre seus lançamentos, Marisa não mostra crescimento musical. Não há grandes diferenças entre "O que você quer saber de verdade" (2011) e "memórias crônicas e declarações de amor" (2001), por exemplo. As composições ficam a cargo de Marisa em parceria com nomes repetidos como Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e um inexpressivo Rodrigo Amarante, que se dividem em 14 faixas.
"O que você quer saber de verdade" parece ter sido feito para o fã de Marisa da nova geração: é simples, curto (o CD tem cerca de 40 minutos), e foi amplamente divulgado pela internet. Até mesmo a coletiva de imprensa concedida pela cantora para divulgar o álbum foi virtual. O clipe de "Ainda Bem", carro-chefe do álbum, conta com a participação da nova sensação entre os lutadores, Anderson Silva, atuando como dançarino. Poucas são as músicas que se destacam, entre elas "Aquela velha canção", um brega aos tons da jovem guarda, a regravação de "Lencinho querido", de Dalva de Oliveira e o forró de "Hoje eu não saio, não".
Depois de ouvir este novo CD dá para entender o porquê de Marisa Monte servir de base para as novas vozes da MPB, ela tem a dose exata de profundidade (musical, sonora, comportamental) para inspirar estes artistas. Canta obviedades mas mantem o tom blasé sendo reservada, consegue firmar grandes hits nas rádios mas sem perder a tal erudição em suas músicas. Não há muita novidade, não se vê muita evolução. Nem em Marisa, nem na música brasileira como um todo. O que falta neste momento é um agente provocador inesperado que aponte para novas direções e, com certeza, este agente não é Marisa Monte.













