segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Coldplay - Mylo Xyloto

Artista: Coldplay
Álbum: Mylo Xyloto
Ano: 2011
Produção: Markus Dravs, Daniel Green, Rik Simpson e Brian Eno
Lançamento: EMI


Há quem não entenda a mudança de comportamento do Coldplay desde que a banda começou a divulgar o sucessor de "Viva la Vida or Death and All His Friends". Os rapazes melancólicos deram lugar à uma banda movida a cores, sprays e festa com o novo álbum "Mylo Xyloto". Se a intenção do Coldplay é resgatar o que há de positivo em cada um, a missão pode ser dada como bem sucedida.

"Mylo Xyloto", que de acordo com Chris Martin significa "dedões de xilofone", é uma espécie de ode à positividade. O tema central do álbum, segundo o vocalista, é tentar transformar coisas ruins em coisas boas. O que não tem nada a ver com despretensão. Quando se trata de Coldplay até o mais simples é requintado.

Comprometido com causas sociais, Chris Martin e seus companheiros mostram no novo álbum, que se há uma forma de mudar o mundo é atraindo as massas com uma positividade sonora e comportamental. A participação de Rihanna na faixa "Princess of China", então, tem uma explicação: um dos maiores nomes do R&B atual, a cantora funciona como um ótimo chamariz para um público novo.


O espírito jovem de "Mylo Xyloto", segundo Martin, é fruto da inspiração nos grafites dos anos 70 em Nova York e do movimento de resistência nazista "White Rose". Ambos movimentados por adolescentes que resistiam aos tempos de turbulência da época. Seria Chris Martin uma espécie de fomentador de uma nova revolução jovem?

A resposta é otimista. Em “Every Teardrop Is a Waterfall”, escolhida como carro-chefe do álbum, Martin canta "todas as crianças dançam, até que a segunda-feira de manhã pareça outra vida", ao som de baterias compassadas e da ótima guitarra de Jonny Buckland.

Tudo é grandioso em "Mylo Xyloto", desde o conceito, até os arranjos, passando pelas letras. A essência do Coldplay está ali: os coros, os vocais poderosos, as canções que evoluem a medida que se vai ouvindo, o romantismo metaforizado já conhecidos do grande público, tudo somado a um colorido que vai além das roupas da banda, consegue chegar até o ouvinte. "Mylo Xyloto" é um convite para a festa. Basta saber se essa festa é apenas escapismo ou se será capaz de mudar o mundo.

Mylo Xyloto será lançado em 24 de Outubro.

Se você tivesse que ouvir apenas uma música do cd: Hurts Like Heaven

domingo, 16 de outubro de 2011

Demi Lovato - Unbroken

Artista: Demi Lovato
Álbum: Unbroken
Ano: 2011
Produção: Timbaland, Ryan Tedder, Rock Mafia, Dreamlab, Emanuel Kiriakou, Joshua Alexander, Billy Steinberg, Toby Gad, Bleu
Lançamento: Hollywood Records


Logo que Demi Lovato anunciou que um novo álbum estava pronto para ser lançado, a expectativa dos fãs era das maiores. Afinal, todos queriam saber como uma estrela da Disney transformaria os episódios sombrios que tinha vivido em 2010 em música. "Unbroken" é o perfeito enredo de como Demi prefere se referir às suas adversidades: com muita alegria e poucos momentos de reflexão.

"Unbroken" começa ao som das batidas de Timbaland que, infelizmente, soa como se estivesse apenas reciclando o que já produziu. Com "All Night Long", Demi inicia o tom que predomina durante grande parte do CD: ela quer dançar para mostrar que superou os problemas. As músicas mais agitadas mostram uma maturidade na medida certa, "Unbroken" traz letras que passeiam superficialmente sobre amor, atração e sexo e que, por isso, não assustam os fãs que cresceram com ela. Como em "Who's That Boy" em que Demi canta sobre um garoto que está interessada: "Eu poderia nos imaginar de inúmeras formas, desde o fundo de uma balada, até uma cama em um lugar escuro".

A superficialidade não se estende apenas às letras. As primeiras faixas do CD, soam como hits radiofônicos feitos para festas, o que na voz de Demi não convence - principalmente se levamos em consideração o fato de que estas são as músicas que contam com participações como Missy Elliot, Dev, Iyaz ("You're My Only Shorty") e Jason Derulo ("Together") e que, mesmo assim, são descartáveis.


São nas músicas mais calmas que encontramos o que há de mais profundo e precioso da carreira de Demi Lovato. Ela já tinha dado indícios desse poder quando lançou "Don't Forget" em 2008, principalmente na faixa que dava título ao álbum: uma balada que contava com vocais chorosos e que, ao final, explodia com guitarras. Demi, à época com 16 anos, ao cantar sobre a dor de ser esquecida por um amor, mostrava que tinha algo de diferente das outras estrelas da Disney. Em "Unbroken" esse diferencial pode ser percebido, mesmo que com parcimônia.

Se Demi passou todo o álbum desviando de sua intimidade e de seus sentimentos, duas faixas se destacam por escancarar problemas pessoais. "Skyscraper", balada cheia de emoção, escolhida para ser o primeiro single do álbum, pode ser facilmente relacionada com as questões enfrentadas por Demi e é, com certeza, uma das faixas mais honestas de "Unbroken". Com vocais obscuros ela canta "você pode quebrar tudo que eu sou, mas eu vou levantar do chão como um arranha-céu". Em "For The Love Of a Daughter", a história de uma garota abandonada por seu pai ainda pequena, lembra "I'm Ok" de Christina Aguilera em sua fase "Stripped". 

Outras faixas relacionáveis (e nem por isso tão boas quanto as duas citadas anteriormente) também estão em "Unbroken", como "Lightweight", em que Demi canta sobre a inexperiência no amor e "Fix a Heart", uma espécie de aviso para aqueles que à machucaram. Vale a pena ouvir também a faixa que dá título ao álbum, um europop com potencial para hit e o r&b com vocais poderosos de "My Love Is Like a Star".

"Unbroken" não é um álbum coeso, ora soa como mais uma produção da Disney, ora como mais um CD dançante sem conteúdo (letra, arranjo ou produção), e nos momentos em que ela mais se destaca dando esperanças para o ouvinte, o crescimento ainda é moderado. Se um álbum deve ser o reflexo do artista, "Unbroken" simboliza que Demi Lovato ainda está imatura musicalmente, mesmo tendo potencial.

Se você tivesse que ouvir apenas uma música do cd: Skyscraper

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Beyoncé - 4

Artista: Beyoncé
Álbum: 4
Ano: 2011
Produção: The-Dream, Beyoncé Knowles, Nick van de Wall, Wesley Pentz, David Taylor, Adidja Palmer, Switch, Shea Taylor
Lançamento: Columbia


Certa vez em entrevista para a apresentadora Ellen Degeneres, Beyoncé falou sobre Sacha Fierce, seu alterego feminista e cheio de apelo sexual. Na época, divulgando o álbum I Am... Sacha Fierce, a cantora comentou sobre a estratégia de lançar um álbum duplo: essa seria a melhor forma de cantar as baladas de que tanto gosta e, ao mesmo tempo, dar para os fãs a Beyoncé rebolativa e cheia de atitude que a ajudou a firmar de vez seu nome no ranking das principais artistas da história.


E se na época de "I Am..." Beyoncé ainda não tinha a autoridade para cantar apenas o que lhe apetecia, "4" foi a saída para que ela tomasse as rédeas de sua carreira: demitiu o pai, Matthew Knowles, que trabalhava como seu empresário desde os tempos de Destiny's Child, tirou um ano de férias, resolveu experimentar novas influências, produtores e cantar o que realmente gosta. Assim nasceu "4", um álbum marcado principalmente por baladas e por um R&B que vezes flerta com o pop eletrônico e vezes com a sonoridade black dos anos 70 e 80.

Com exceções das faixas "Countdown" (uma espécie de "Get Me Bodied" mais experimental), "End Of Time" e "Run the World (Girls)" (as duas últimas claramente influenciadas pelo afrobeat de Fela Kuti e pelo Funk Carioca), "4" é um álbum que mostra uma faceta diferente de Beyoncé, pelo menos para o público geral que está mais acostumado a desejar sua imagem do que apreciar sua música. E Beyoncé se sai bem na tarefa de mostrar outros lados, por mais que isso demande uma dedicação maior de quem escuta o CD.  

Como na faixa "1+1" que abre o álbum, uma balada que mescla melodia calma e ternura com vocais cheios de paixão marcados pelos vibratos já conhecidos pelos fãs. A música peca na letra ("Eu não sei muito sobre álgebra, mas eu sei que 1 + 1 é igual a 2 e sou eu e você") mas provoca o choque inicial para quem esperava um CD alegre, além de introduzir perfeitamente as músicas seguintes que versam sobre romance e desilusões amorosas. Como no caso de "I Care", segunda faixa do álbum, onde ela canta "você não liga, mas eu ainda ligo" sobre uma bateria marcante e um solo de guitarra muito bem colocado.

E se o forte de Beyoncé não é a letra e sim a batida, isso só é reinterado em "Rather Die Young", música que facilmente poderia estar no repertório de Diana Ross. Boa melodia, letra medíocre.

"I Miss You" e "Best Thing I Never Had" aparecem como as faixas mais perdidas do CD, senão descartáveis, as canções soam como mais do mesmo. A primeira traz uma Beyoncé cantando por cima de uma batida simples e um teclado inquieto - uma faixa que não se decide: ora simples, ora experimental, termina em menos de 3 minutos sem dizer a que veio. "Best Thing I Never Had" é mais uma música sobre orgulho ferido e coração partido, a impressão que dá é a de que estamos ouvindo "Irreplaceable" novamente.

É com "Party" que Beyoncé abre o time de poucas músicas animadas de "4", nesse caso, contando com a ótima participação de Andre 3000. O ar vintage de "Party", que traz samples de "For Your Love" de Stevie Wonder e produção de Kanye West, predomina em "Love On Top", uma das melhores músicas do CD. Aqui ouvimos uma Beyoncé aos moldes da gravadora Motown, ratificando as influências de mestres como Michael Jackson - principalmente nos vocais.

"I Was Here" é o que se poderia esperar entre uma parceria entre Beyoncé e Dianne Warren. Letra que mostra força, superação e autoridade com uma melodia carregada de emoção, aos moldes de "My Way" de Frank Sinatra. Uma balada perdida entre as faixas mais dançantes que fecham o álbum, mas que traz vocais graves que explodem no final como num clímax emocional que vale a escolha para estar em "4".

O álbum pode até não estar entre os preferidos daqueles que apreciam uma Beyoncé mais femme fatale, mas mostra dois elementos importantes na formulação de um artista: maturidade e despretensão. Isso sem perder a esperteza comum aos artistas pop - Beyoncé canta uma balada, mas não deixa de aparecer de calcinha e sutiã no clipe. Rebolando ou cantando, Beyoncé está em uma posição em que pode fazer o que quiser que todos vão escutar e comentar sobre isso.

Se você tivesse que ouvir apenas uma música do cd: Love On Top

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Criolo - Nó na Orelha

Artista: Criolo
Álbum: Nó na Orelha
Ano: 2011
Produção: Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral
Lançamento: Independente


No final dos anos 90, os Racionais MC's apresentavam para o Brasil a forma brasileira de fazer rap. Se já existiam outros nomes do gênero, foi com os Racionais que o Brasil pode entender melhor o que se passava no morro: Mano Brown caiu nos gostos de pobres e playboys com rimas que contavam histórias de prisões, drogas, preconceito, favela e violência. A música dos Racionais vinha acompanhada de um estilo próprio - versos sérios, jeito de gangsta, avessos ao contato com a grande mídia. O grupo virou sinônimo de resistência e, diga-se de passagem, de rap de qualidade.

A tônica do rap de protesto com cara sisuda fez sucesso e se tornou uma referência para todos os novos grupos que surgiriam depois. Resultado: todo mundo resolveu se espelhar no jeito arredio de Mano Brown. Na tentativa de "não se vender" os grupos não falavam com a grande mídia, e só tratavam dos mesmos temas: a dificuldade de se viver na favela. Os destinos que a mensagem ia tomando eram cada vez menores assim como os interessados pelo ritmo. O gênero só chegava para pequenas audiências e o brasileiro passou a identificar o rap apenas como aquela música com rimas que tratam sobre violência.

Desde o sucesso dos Racionais MC's, vários rappers começaram a lutar contra esta impressão deixada. Um desses nomes é Criolo, que lançou em 2011 "Nó na Orelha". Segundo álbum de sua carreira, produzido por Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, o álbum dá um passo a frente na história do rap e descontrói a ideia de que rap é sinônimo de batidas cruas e rimas de protesto.

Criolo costuma dizer que tudo o que faz é rap, mas ouvindo "Nó na Orelha" pode-se identificar muito mais do que se espera. Reggae, samba, brega, poesia. Um rapper que não necessariamente desenvolve suas músicas em cima das rimas, que faz uso do lirismo, da construção das palavras, brincando com a sonoridade e incluindo em seus versos o retrato do seu dia a dia, elementos da cultura pop e muitas referências. Ao contrário de outros rappers, Criolo é acompanhado por uma banda e esse diferencial pode ser percebido em sua música. Como em "Bogotá", faixa que abre o disco, um funk dançante, aos temperos de Funk Como Le Gusta e Fela Kuti, onde Criolo canta seus versos sobre bugingangas e muambas. “Todo mundo sabe o preço do papel, quem tem e de onde vem”, canta.


A segunda faixa, "Subirusdoistiozin", que ganhou video-clipe no estilo curta metragem, retrata a forma como Criolo vê o cotidiano da favela. "Pleno domingão, flango ou macalão, se o negocio é bão, cê fica chineizin”. Metais, scratchs e aquele "...parapapá" que funciona como um ótimo refrão, mesmo sem ser intencional.

Em "Não Existe Amor em SP", Criolo mostra como o rap pode atingir outros níveis sem perder sua essência. A faixa é um retrato da cidade de São Paulo de forma controversa: se Caetano Veloso tratou a cidade com os olhos de um turista em "Sampa", Criolo canta sobre São Paulo com a experiência de quem nasceu nesse caldeirão gélido que é a cidade. Em quase 5 minutos, o rapper consegue criar uma cena com personagens, cenário, ações, falas: “Os bares estão cheios de almas tão vazias, a ganância vibra, a vaidade excita, devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel, aqui ninguém vai pro céu”. É um Criolo sutil, leve, que sabe emocionar, cantando com a autoridade de quem sofre, entoando frases como “não precisa morrer pra ver Deus”.

E as facetas do compositor não param por aí: "Mariô", um afrobeat com versos rápidos sobre preconceito. "Quem se julga a nata cuidado pra não coalhar”, versa em determinado momento. "Guajarex", um rap com versos terminados em "ex", nos bons moldes de um Chico Buarque em "Construção", "Freguês da Meia Noite" um brega, desses de dar orgulho em Odair José e "Samba Sambei" um dub cheio de referências e vocais espertos. São nessas músicas que Criolo mostra o quão produtivo pode ser sair de sua zona de conforto.

As faixas finais mostram um Criolo consciente de seu papel como MC. "Cantar rap nunca foi pra homem fraco", versa Criolo em "Sucrilhos" faixa que, segundo ele, "é um presente para todas as pessoas que gostam do cereal". "Di Cavalcanti, Oiticica e Frida Kahlo têm o mesmo valor que a benzedeira do bairro”, compara. Outras referências rítmicas e de cultura pop surgem na última faixa do álbum. É no samba "Linha de Frente" que Criolo usa a Turma da Mônica de Maurício de Souza para ilustrar o cotidiano da favela.

Criolo conseguiu desenvolver um álbum capaz de agradar um ouvinte de rap e abrir os ouvidos de um novo público. E se a mensagem de Criolo ainda não conseguiu ser entendida depois de você ouvir "Nó na Orelha", ele manda o recado na faixa "Lion Man": "MC bom é mais que photoshop e refrão". Sem dúvida, um dos melhores álbuns de 2011.

Se você tivesse que ouvir apenas uma música do cd: Não existe amor em SP